Cidinha autografando O Mar de Manu, uma das obras do seu balaio literário. Foto: Alessandra Gama.
Como de costume e sentido, abrimos a roda de [re]lançamento de Os Nove Pentes d’África com o tambor e Olóojó Òní, saudando o Senhor do Dia.
Cidinha da Silva fez côro com a abertura, pedindo aos presentes da roda que se apresentassem, contribuíssem com questões e expectativas sobre o encontro de [re]lançamento do livro.
Os Nove Pentes D’África e outras obras de Cidinha da Silva, que vieram pra roda. Foto: David Rosa.
Transitamos sobre a dinâmica e incidência das editoras no fluxo do mercado livreiro, relações com as políticas de livro, leitura e literatura no âmbito escolar, entre outros temas mais abrangentes. Em seguida, percorremos sobre as questões ensaísticas, crônicas, rotinas de produção criativa e as africanidades abordadas pela autora, em seus livros.
Também falamos sobre as estéticas de linguagem e política artística das obras de Cidinha da Silva, com o feliz detalhe de compartilhar com a própria, as leituras sensoriais do nosso pequeno grupo entre a vastidão de leitoras e leitores que acompanham a sua escrita.
Roda de conversa com leitoras e leitores presentes. Foto: Alessandra Gama
Na ocasião passada foi o lançamento de Racismo e Afetos Correlatos e agora, na sexta, dia 04, foi Os Nove Pentes d’África, em sua primeira reimpressão. A cada encontro a inauguração de uma nova casa, feita de letras e sentidos, portas, janelas e paredes “de vidro”, que transcendem o convite escrito de Cidinha da Silva, aos passeios negros e nus, por sua obra literária.
Veja mais imagens:
Os Nove Pentes D’África e outras obras de Cidinha da Silva, que vieram pra roda. Foto: David Rosa.
Roda de conversa com leitoras e leitores presentes. Foto: Alessandra Gama
Ontem (sábado, 22) retornamos com os ensaios abertos do Afoxé Ibaô Inã ati Omi. Os encontros serão quinzenais, alternando os locais entre o barracão do Ibaô e Estação Cultura, durante o mês de setembro. O próximo na Estação Cultura será dia 12/09 e no Ibaô, dia 29/09, à partir das 14h. Vejam algumas imagens de ontem, registradas pela nossa querida @Mandy Castro e sejam bem vind@s nos próximos encontros! AXÉ!
Ensaio do Afoxé Ibaô na Estação Cultura. Foto: @mandy castro
Afoxé Ibaô Inã ati Omi. Ensaio aberto da Estação Cultura. Foto: @Mandy Castro.
Ensaio do Afoxé Ibaô na Estação Cultura. Foto: @mandy castro
Foto: @Mandy Castro
Ensaio do Afoxé Ibaô na Estação Cultura. Foto: @mandy castro
Escultura africana. Visita ao Instituto Cultural baba Toloji. Canjerê, 2014. Foto: Luis Tarley
*Alessandra Gama | Ibaô
A[s] cultura[s] de matriz africana é[são] formada[s] por inúmeras manifestações, saberes e expressões, nascidas a partir do tráfico de diversas etnias africanas para o Brasil, ainda no período colonial, que foram concentradas para o trabalho escravo. De acordo com o MEC (2006, p. 14):
A partir do século XVI, as populações negras desembarcadas no Brasil foram distribuídas em grande quantidade nas regiões litorâneas, com maior concentração no que atualmente se denomina regiões Nordeste e Sudeste, cujo crescimento econômico no decorrer dos séculos XVII, XVIII e XIX foi assegurado pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar. Esse processo garantiu aos senhores do engenho e latifundiários um grande patrimônio, enquanto, em precárias condições de vida, coube ao povo negro, em sua diversidade, criar estratégias para reverenciar seus ancestrais, proteger seus valores, manter e recriar vínculos com seu lastro histórico.
Neste cenário, criava-se no Brasil uma herança africana, que iria compor o desenvolvimento cultural do povo brasileiro. Cultura presente na arte, na culinária, no vestuário, na fala, na educação, nos laços familiares, no trabalho, enfim, no modo de viver e sobreviver e no comportamento d@s brasileir@s que receberam fortemente as influências trazidas pelos povos africanos. Das mais variadas formas de expressão e resistência cultural do povo africano no Brasil, elementos como o canto e a expressão corporal, derivam muitas outras formas de comunicar-se com o mundo.
Contramestre David na roda do Canjerê 2014. Foto: Ale Gama.
Os africanos escravizados e sequestrados, eram originários de diferentes etnias (Banto, Nagô, Jêje-Fon e outras), por vezes, conservando características semelhantes, porém não idênticas, entre os elementos da sua cultura, fossem no idioma, ritos, hábitos domésticos, danças, etc. Das expressões surgem representações da ancestralidade: no culto religioso, nas coroações de reis e rainhas, maracatu, congadas, coco, samba de roda, jongo, afoxés. Dos cantos, das lutas, relatos do cotidiano, se fez a trajetória do povo negro. Da combinação de todos os elementos ritualísticos, surgem e ressurgem as manifestações culturais e a resistência da memória na diáspora.
Felipe, integrante do Afoxé Ibaô Inã ati Omi. Cortejo do Carnaval na comunidade, 2015. Foto: Mandy Castro.
Reinventa-se uma nova África e aqui , disseminamos os conceitos e os valores civilizatórios das etnias africanas em nosso país. Temos a capoeira, uma expressão cultural considerada arte, luta e dança, que se afirmou como a principal forma de defesa, utilizada pelos perseguidos na época da escravidão e hoje é Patrimônio Cultural da Humanidade. A história da capoeira se confunde com a história constituída na época colonial do Brasil, período em que o tráfico de escravos de diversas regiões da África encontrou em terras brasileiras, possivelmente, os maiores consumidores da mão-de- obra escravocrata.
Polyana e Fabrício, na roda de Capoeira no Balaio das Águas, 2014. Foto: Robson Bonfim, cedida em Creative Commons.
O tempo passou e algumas marcas foram perpetuadas pelo período de grande contingência dos povos africanos, que aqui forçosamente tiveram de reconstruir a sua identidade. A forma encontrada para que suas tradições fossem mantidas, designou à oralidade um papel fundamental para a preservação e transmissão de determinados costumes e valores das nações africanas no Brasil.
A tradição oral tem enorme significância para as culturas africanas, através do sopro sagrado, se formam as palavras que os mais velhos transmitem aos mais novos. De geração em geração, as tradições, os conhecimentos acerca do cotidiano sobre a natureza, sobre os antepassados, enfim, os valores da sociedade e as concepções circunscritas pelas referências ancestrais, se atualizam no tempo presente. É através da memória individual e coletiva que se guardam e se presentificam os segredos da iniciação nos mais diversos ofícios, cantos, rituais, portanto tudo isso faz parte do passado e do presente de cada indivíduo em sua comunidade.
Para nós no Ibaô, essa continua sendo uma referência fundamental e ao nosso modo, vamos compartilhando conhecimentos, jeitos e processos que se constituem da partilha e nos permitem [re] construir nosso passado, com as mãos e cabeça no presente e os pés no futuro.
Referência citada:
MEC. Orientações e ações para a educação das relações étinco-raciais. Brasília: Secad, 2006.
*Alessandra Gama: cofundadora do Instituto Baobá de Cultura e Arte e articuladora institucional, atua na gestão de projetos. É Educadora Popular, pesquisadora e atualmente, mestranda em Educação, Comunidades e Movimentos Sociais, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
No momento em que o Brasil vivencia medidas contrárias à consolidação dos direitos humanos, com a aprovação da redução da maioridade penal e a exclusão de conteúdos sobre gênero dos planos de educação, organizações como a Plataforma Dhesca Brasil, a Justiça Global, o Intervozes e a Nigéria lançam o filme DEFENSORXS, que traz à tona o difícil cotidiano de quem luta em defesa dos direitos no país.
Realizado pelo coletivo e produtora cearense Nigéria, o longa aborda realidades de grupos, entidades e movimentos nas cinco regiões do Brasil, onde homens e mulheres resistem aos impactos de grandes obras, como Belo Monte, e defendem a justiça social, o território, a livre orientação sexual e outros direitos fundamentais. Em capítulos, discute o que é ser defensor ou defensora de direitos humanos e traça um panorama documental sobre a resistência de pessoas que buscam melhorias e avanços em suas pautas, mesmo quando ameaçadas.
Nas cinco regiões do Brasil, homens e mulheres defendem a justiça social: a garantia dos direitos fundamentais para todos os humanos.
O Canjerê Patrimonial é um encontro de detentores [mestres e aprendizes] das tradições e saberes da culturas herdadas pelos antepassados, que protagonizam ações de salvaguarda do patrimônio cultural de base comunitária. O encontro também reúne gestores, instituições públicas (MinC, IPHAN, IBRAM, SEC-DPH, Secretaria Municipal de Cultura/CSCC), pesquisadores e todo público socialmente engajado com as políticas públicas de registro e proteção dos bens culturais. As edições realizadas até o momento foram: 2012, 2013 e 2014. Em 2014 também foi realizada a oficina “Casa do Patrimônio Ibaô” em parceria com o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que contribuiu fortemente para nosso amplo entendimento no âmbito da Educação Patrimonial e para o fortalecimento do Ibaô como instituição catalisadora de ações neste campo.
Flyer de divulgação da Oficina “Casa do Patrimônio Ibaô” (2014)Cartaz de pré-divulgação do Canjerê Patrimonial, edição de 2014.Cartaz de divulgação e programação da primeira edição do seminário (2012).
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