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Afoxé Ibaô Inã ati Omi abre a Noite dos Tambores do Revelando SP

No último sábado (26), o Afoxé Ibaô Inã ati Omi abriu o palco para a Noite dos Tambores do Revelando SP, em Valinhos.
Este ano a nossa cidade vizinha foi anfitriã do festival que já está em sua décima nona edição. O festival reuniu ao longo de nove dias, diversas comunidades, grupos e artistas das expressões tradicionais, além de barracas de artesanato, culinária, vestuários e artefatos diversos que representam a cultura paulista.
A Noite dos Tambores é composta por uma diversidade de expressões oriundas das matrizes africanas em que os tambores protagonizam, junto da oralidade cantada, as formas de comunicar as tradições locais. O Afoxé Ibaô Inã ati Omi teve a honra de ser convidado para a abertura da noite e a apresentação contou com o repertório de composições próprias, cantigas de domínio de nação e algumas composições dos nossos padrinhos Afoxé Oyá Tokolê de Recife (PE).
Nossos agradecimentos ao Revelando SP e à Secretaria Municipal de Cultura de Campinas. Os registros são da nossa semente @Madyh Castro.
Afoxé Ibaô no Revelando São Paulo 2015. Axé!

O nosso afoxé estará no Revelando São Paulo, edição que acontece de 19 a 27 de setembro, das 09h às 21h, em Valinhos. Trata-se também do XIX Festival da Cultura Paulista Tradicional, com barracas de artesanato e culinária, apresentações de Batuque, Catira, Cavalhada, Congada, Folias de Reis e Tropeiros.
O Revelando São Paulo é um programa e foi criado em 1996 pela Abaçaí Cultura e Arte, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo. Por meio de suas pesquisas e parceiros, este programa revela a importância da cultura imaterial, de saberes e fazeres de várias comunidades e pessoas da região, procurando contribuir com a sua manutenção e extroversão, envolvendo as diversas instâncias dos poderes públicos municipais e estadual, para que se garanta as condições necessárias à sua continuidade (Fonte: Abaçaí).
Esta edição será realizada no Parque Municipal de Feiras e Exposições, localizado à Rua D. João VI, 82 ° – Jardim Planalto – Valinhos/SP. A partir das 17h30, no dia 26 de setembro, o Afoxé Ibão Inã ati Omi leva o poder da palavra, do canto, da dança e da percussão afro. Uma das riquezas ancestrais herdadas dos nossos antepassados e que vivenciamos como uma das culturas que [re]existem pela negritude.
Os Nove Pentes d’África. Roda de [re]lançamento com Cidinha da Silva, no Ibaô

Como de costume e sentido, abrimos a roda de [re]lançamento de Os Nove Pentes d’África com o tambor e Olóojó Òní, saudando o Senhor do Dia.
Cidinha da Silva fez côro com a abertura, pedindo aos presentes da roda que se apresentassem, contribuíssem com questões e expectativas sobre o encontro de [re]lançamento do livro.

Transitamos sobre a dinâmica e incidência das editoras no fluxo do mercado livreiro, relações com as políticas de livro, leitura e literatura no âmbito escolar, entre outros temas mais abrangentes. Em seguida, percorremos sobre as questões ensaísticas, crônicas, rotinas de produção criativa e as africanidades abordadas pela autora, em seus livros.
Também falamos sobre as estéticas de linguagem e política artística das obras de Cidinha da Silva, com o feliz detalhe de compartilhar com a própria, as leituras sensoriais do nosso pequeno grupo entre a vastidão de leitoras e leitores que acompanham a sua escrita.

Na ocasião passada foi o lançamento de Racismo e Afetos Correlatos e agora, na sexta, dia 04, foi Os Nove Pentes d’África, em sua primeira reimpressão. A cada encontro a inauguração de uma nova casa, feita de letras e sentidos, portas, janelas e paredes “de vidro”, que transcendem o convite escrito de Cidinha da Silva, aos passeios negros e nus, por sua obra literária.
Veja mais imagens:
Ensaio na Estação, 12 set, 15h. Axé!!!
Afoxé Ibaô na Estação
Ontem (sábado, 22) retornamos com os ensaios abertos do Afoxé Ibaô Inã ati Omi. Os encontros serão quinzenais, alternando os locais entre o barracão do Ibaô e Estação Cultura, durante o mês de setembro. O próximo na Estação Cultura será dia 12/09 e no Ibaô, dia 29/09, à partir das 14h. Vejam algumas imagens de ontem, registradas pela nossa querida @Mandy Castro e sejam bem vind@s nos próximos encontros! AXÉ!
Pés, mãos e cabeça: memória, oralidade e africanidades nossas de cada dia.

*Alessandra Gama | Ibaô
A[s] cultura[s] de matriz africana é[são] formada[s] por inúmeras manifestações, saberes e expressões, nascidas a partir do tráfico de diversas etnias africanas para o Brasil, ainda no período colonial, que foram concentradas para o trabalho escravo. De acordo com o MEC (2006, p. 14):
A partir do século XVI, as populações negras desembarcadas no Brasil foram distribuídas em grande quantidade nas regiões litorâneas, com maior concentração no que atualmente se denomina regiões Nordeste e Sudeste, cujo crescimento econômico no decorrer dos séculos XVII, XVIII e XIX foi assegurado pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar. Esse processo garantiu aos senhores do engenho e latifundiários um grande patrimônio, enquanto, em precárias condições de vida, coube ao povo negro, em sua diversidade, criar estratégias para reverenciar seus ancestrais, proteger seus valores, manter e recriar vínculos com seu lastro histórico.
Neste cenário, criava-se no Brasil uma herança africana, que iria compor o desenvolvimento cultural do povo brasileiro. Cultura presente na arte, na culinária, no vestuário, na fala, na educação, nos laços familiares, no trabalho, enfim, no modo de viver e sobreviver e no comportamento d@s brasileir@s que receberam fortemente as influências trazidas pelos povos africanos. Das mais variadas formas de expressão e resistência cultural do povo africano no Brasil, elementos como o canto e a expressão corporal, derivam muitas outras formas de comunicar-se com o mundo.

Os africanos escravizados e sequestrados, eram originários de diferentes etnias (Banto, Nagô, Jêje-Fon e outras), por vezes, conservando características semelhantes, porém não idênticas, entre os elementos da sua cultura, fossem no idioma, ritos, hábitos domésticos, danças, etc. Das expressões surgem representações da ancestralidade: no culto religioso, nas coroações de reis e rainhas, maracatu, congadas, coco, samba de roda, jongo, afoxés. Dos cantos, das lutas, relatos do cotidiano, se fez a trajetória do povo negro. Da combinação de todos os elementos ritualísticos, surgem e ressurgem as manifestações culturais e a resistência da memória na diáspora.

Reinventa-se uma nova África e aqui , disseminamos os conceitos e os valores civilizatórios das etnias africanas em nosso país. Temos a capoeira, uma expressão cultural considerada arte, luta e dança, que se afirmou como a principal forma de defesa, utilizada pelos perseguidos na época da escravidão e hoje é Patrimônio Cultural da Humanidade. A história da capoeira se confunde com a história constituída na época colonial do Brasil, período em que o tráfico de escravos de diversas regiões da África encontrou em terras brasileiras, possivelmente, os maiores consumidores da mão-de- obra escravocrata.

O tempo passou e algumas marcas foram perpetuadas pelo período de grande contingência dos povos africanos, que aqui forçosamente tiveram de reconstruir a sua identidade. A forma encontrada para que suas tradições fossem mantidas, designou à oralidade um papel fundamental para a preservação e transmissão de determinados costumes e valores das nações africanas no Brasil.
A tradição oral tem enorme significância para as culturas africanas, através do sopro sagrado, se formam as palavras que os mais velhos transmitem aos mais novos. De geração em geração, as tradições, os conhecimentos acerca do cotidiano sobre a natureza, sobre os antepassados, enfim, os valores da sociedade e as concepções circunscritas pelas referências ancestrais, se atualizam no tempo presente. É através da memória individual e coletiva que se guardam e se presentificam os segredos da iniciação nos mais diversos ofícios, cantos, rituais, portanto tudo isso faz parte do passado e do presente de cada indivíduo em sua comunidade.
Para nós no Ibaô, essa continua sendo uma referência fundamental e ao nosso modo, vamos compartilhando conhecimentos, jeitos e processos que se constituem da partilha e nos permitem [re] construir nosso passado, com as mãos e cabeça no presente e os pés no futuro.
Referência citada:
MEC. Orientações e ações para a educação das relações étinco-raciais. Brasília: Secad, 2006.
*Alessandra Gama: cofundadora do Instituto Baobá de Cultura e Arte e articuladora institucional, atua na gestão de projetos. É Educadora Popular, pesquisadora e atualmente, mestranda em Educação, Comunidades e Movimentos Sociais, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).