Dia 19 de maio de 2016 a escritora Cidinha da Silva lançou em Campinas o livro Sobre-Viventes! pela Editora Pallas e foi entrevistada pela Gislaine Antônio, do Ibaô. Além da entrevista, Cidinha performa a crônica “O dia que Willian Bonner chorou”
Desde 2008, a roda de capoeira está no rol dos patrimônios culturais imateriais do Brasil declarados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Diretamente ligada à história da resistência negra – tanto durante como depois da escravidão –, em 2014, a herança cultural afro-brasileira ganhou o mesmo título da UNESCO, desta vez consagrando-a como um patrimônio da humanidade.
Diferentemente do tombamento de prédios históricos, o registro embasa o desenvolvimento de políticas públicas para a manutenção e ampliação deste patrimônio imaterial. Foi ele, inclusive, o ponto de partida para que o Instituto Ibaô, projeto de preservação e memória da capoeira sediado em Campinas, pudesse repensar seu papel na comunidade local.
No dicionário “sarau” possui varias definições, entre elas: “uma reunião festiva entre amigos onde se ouve músicas, assiste filme, filosofa, lê trechos de livro, recitam poesias”. Tudo isso aconteceu sábado, na edição de setembro do Sarau Ibaô Expressões Periféricas. Mais um encontro de pessoas que acreditam no poder da expressão poética, seja através da poesia recitada, cantada, performada, sentida, muita linguagem periférica exprimida. Noss@s parceir@s não mediram esforços para fortalecer, vieram de todas as regiões de Campinas e da Capital SP, provando que não há distância quando o quê prevalece é o desejo de transformação das realidades periféricas. Tod@s carregad@s de energia vibrante, pulsando desejo de expressão.
O Expressões Periféricas é um espaço aberto para a comunidade se manifestar, o microfone aberto é o lugar de se posicionar e de transformar. É a comunidade acolhendo a comunidade, é o olhar coletivo que transforma e é transformado. Arte e poética transformando a ação, a transformação social que reverbera através da potência das linguagens artísticas, da poesia e do coração. A poesia que se faz e reverbera amor. Cada sarau é um sarau, um aprendizado, uma emoção, muitos corações unidos pela canção… O mundo precisa de poesia, o mundo precisa de sarau.
As diversas formas e linguagens de pulsar a cultura nas comunidades periféricas são quase sempre a soma de potências criativas invisibilizadas, pouco ou quase nada incentivadas. Ainda assim[!], as expressões periféricas reescrevem um outro capítulo nas páginas das desigualdades, revelando outros universos possíveis, apesar das ausências sociais e afetivas, sempre multiplicadas.
A edição de setembro foi um encontro improversado de vári@s rappers, chamando foco para o peso e a importância do rap e do hip hop, como fontes inesgotáveis de comunicação, linguagem, produção cultural e artística. Seu nascedouro e fonte de inspiração primária são as ruas, os guetos, favelas e todos os lugares localizados à margem dos fluxos econômicos e não o bastante, lugares que alimentam as estatísticas produzidas e mantidas pelas grandes corporações midiáticas. Aquelas que só chegam para noticiar a violência e não para desesconder ou projetar a arte que este mesmo lugar produz…
Marcaram presença na noite de sábado: Doutor Sinistro, Lê MC, REN CPS, Mister Mistério, Lá Máfia, RCDR, Cizo Marfim, HAAK MC e Kabbalah MC’s [de Campinas], com participação especial do Crônica Mendes, que saiu da capital para prestigiar nosso sarau e deixou seu recado musicado “Avisa lá que a favela não tá só…” Seguimos alimentando nossos sonhos, acreditando que a sociedade transformadora e transformada, é essa, vivida na dureza do dia a dia, buscando meios próprios de criar e dizer ao mundo como as coisas podem mudar [e já são diferentes], quando a escolha é compartilhar a soma das potências criativas [e afetivas].
Texto | [Co]Criação: Andrea Mendes, Lu Pontes e Ale Gama.
Ontem (sábado, 22) retornamos com os ensaios abertos do Afoxé Ibaô Inã ati Omi. Os encontros serão quinzenais, alternando os locais entre o barracão do Ibaô e Estação Cultura, durante o mês de setembro. O próximo na Estação Cultura será dia 12/09 e no Ibaô, dia 29/09, à partir das 14h. Vejam algumas imagens de ontem, registradas pela nossa querida @Mandy Castro e sejam bem vind@s nos próximos encontros! AXÉ!
Ensaio do Afoxé Ibaô na Estação Cultura. Foto: @mandy castro
Afoxé Ibaô Inã ati Omi. Ensaio aberto da Estação Cultura. Foto: @Mandy Castro.
Ensaio do Afoxé Ibaô na Estação Cultura. Foto: @mandy castro
Foto: @Mandy Castro
Ensaio do Afoxé Ibaô na Estação Cultura. Foto: @mandy castro
Mais uma expressão foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, a cerimônia aconteceu em Recife, reunindo várias nações no Pátio São Pedro, em agosto desde ano, mas o título já havia sido concedido em dezembro de 2014.
Participaram da celebração os Maracatus Aurora Africana, Estrela Brilhante do Recife, Cambinda Estrela, Leão da Campina, Encanto da Alegria, Nação Tupinambá, Encanto Pina, Nação Porto Rico, Nação Tigre, Almirante do Forte, Cambinda Africano e Raízes de Pai Adão.
Para Marcelino Granja, secretário de Cultura de Pernambuco, o reconhecimento da importância do maracatu para a cultura popular do País pode auxiliar a manifestação a não cair no esquecimento. “Além de ajudar a preservar essa expressão da nossa cultura popular, este título cria as condições necessárias para que ela possa se desenvolver e continuar interagindo com as futuras gerações. A certificação dá visibilidade à tradição e possibilita sua presença no cenário cultural do Estado e do Brasil”, afirmou Granja.
Na cerimônia, que terminou com apresentações de todas as nações presentes, representantes dos maracatus e da Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (AMAMPE) receberam certificados de titulação dos Maracatus Nação de Pernambuco no Livro de Registros das Formas de Expressão.
Patrimônio Cultural Imaterial, valorizar e salvaguardar os saberes do povo!
Os conhecimentos da população, que se expressa por meio de diversas manifestações e que fazem parte da identidade cultural dos mais variados grupos sociais, são parte do patrimônio cultural do país. O patrimônio cultural de um povo diz respeito ao conjunto de manifestações ligadas aos sentidos e valores, as formas de se organizar coletivamente, inclusive os rituais, as festividades, expressões e os lugares que as manifestações acontecem, entre outras referências.
Agbê, também conhecido como Xequrê ou Afoxé. Foto: Acervo Ibaô.
As diferentes formas de compartilhar histórias e memórias coletivas, pelos costumes, crenças, ofícios, cantos e musicalidades, formas de celebrar ou dos modos de se fazer ou construir algo – como um instrumento musical ou uma receita típica – são considerados patrimônios intangíveis ou imateriais.
São bem culturais que ligam as pessoas através “do invisível”, transmitidos entre várias gerações e que permanecem vivas, pela importância para uma ou várias comunidades. Diferente das construções e edifícios, por exemplo, as manifestações culturais não podem ser “tocadas”, como a fala ou, a criação artística ou as maneiras de se fazer os objetos, por isso é considerada “imaterial”.
A legislação brasileira, por meio de decretos, leis e outros instrumentos, podem reconhecer, bem como, garantir a manutenção, continuidade e preservação das práticas e reconhecidas e registradas pelos instrumentos de proteção. A proteção e preservação do patrimônio imaterial é chamada de “salvaguarda”.
Chocalho de Caxixis, confeccionado pelo Mestre Zé Negão, da Sambada da Laia, de Camaragibe, PE. Foto: Alessandra Gama (2015).
As diferentes formas de compartilhar histórias e memórias coletivas, pelos costumes, crenças, ofícios, cantos e musicalidades, formas de celebrar ou dos modos de se fazer ou construir algo – como um instrumento musical ou uma receita típica – são considerados patrimônios intangíveis ou imateriais.
São bem culturais que ligam as pessoas através “do invisível”, transmitidos entre várias gerações e que permanecem vivas, pela importância para uma ou várias comunidades. Diferente das construções e edifícios, por exemplo, as manifestações culturais não podem ser “tocadas”, como a fala ou, a criação artística ou as maneiras de se fazer os objetos, por isso é considerada “imaterial”.
A legislação brasileira, por meio de decretos, leis e outros instrumentos, podem reconhecer, bem como, garantir a manutenção, continuidade e preservação das práticas e reconhecidas e registradas pelos instrumentos de proteção. A proteção e preservação do patrimônio imaterial é chamada de “salvaguarda”.
Samba de Cumbuca (PI). Apresentação na Teia Nacional do Cultura Viva, em Fortaleza, CE. Foto: Alessandra Gama (2010).
Neste sentido, é fundamental que os detentores, ou seja, as pessoas e comunidades que praticam, produzem e dão vida ao patrimônio cultural, estejam em diálogo e compartilhem dos processos de reconhecimento, junto aos órgãos de preservação. Esta participação é prevista na Constituição Federal e na Convenção da UNESCO de 2003, entre outros marcos legais. Com a participação dos detentores, é possível identificar recomendações para a implementação das ações de salvaguarda.
Em nosso próximo post, abordaremos sobre os Inventários Participativos, uma metodologia que colabora para a articulação e participação ativa dos detentores na produção de conhecimentos e nos processos de registro do patrimônio cultural imaterial.
Escultura africana. Visita ao Instituto Cultural baba Toloji. Canjerê, 2014. Foto: Luis Tarley
*Alessandra Gama | Ibaô
A[s] cultura[s] de matriz africana é[são] formada[s] por inúmeras manifestações, saberes e expressões, nascidas a partir do tráfico de diversas etnias africanas para o Brasil, ainda no período colonial, que foram concentradas para o trabalho escravo. De acordo com o MEC (2006, p. 14):
A partir do século XVI, as populações negras desembarcadas no Brasil foram distribuídas em grande quantidade nas regiões litorâneas, com maior concentração no que atualmente se denomina regiões Nordeste e Sudeste, cujo crescimento econômico no decorrer dos séculos XVII, XVIII e XIX foi assegurado pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar. Esse processo garantiu aos senhores do engenho e latifundiários um grande patrimônio, enquanto, em precárias condições de vida, coube ao povo negro, em sua diversidade, criar estratégias para reverenciar seus ancestrais, proteger seus valores, manter e recriar vínculos com seu lastro histórico.
Neste cenário, criava-se no Brasil uma herança africana, que iria compor o desenvolvimento cultural do povo brasileiro. Cultura presente na arte, na culinária, no vestuário, na fala, na educação, nos laços familiares, no trabalho, enfim, no modo de viver e sobreviver e no comportamento d@s brasileir@s que receberam fortemente as influências trazidas pelos povos africanos. Das mais variadas formas de expressão e resistência cultural do povo africano no Brasil, elementos como o canto e a expressão corporal, derivam muitas outras formas de comunicar-se com o mundo.
Contramestre David na roda do Canjerê 2014. Foto: Ale Gama.
Os africanos escravizados e sequestrados, eram originários de diferentes etnias (Banto, Nagô, Jêje-Fon e outras), por vezes, conservando características semelhantes, porém não idênticas, entre os elementos da sua cultura, fossem no idioma, ritos, hábitos domésticos, danças, etc. Das expressões surgem representações da ancestralidade: no culto religioso, nas coroações de reis e rainhas, maracatu, congadas, coco, samba de roda, jongo, afoxés. Dos cantos, das lutas, relatos do cotidiano, se fez a trajetória do povo negro. Da combinação de todos os elementos ritualísticos, surgem e ressurgem as manifestações culturais e a resistência da memória na diáspora.
Felipe, integrante do Afoxé Ibaô Inã ati Omi. Cortejo do Carnaval na comunidade, 2015. Foto: Mandy Castro.
Reinventa-se uma nova África e aqui , disseminamos os conceitos e os valores civilizatórios das etnias africanas em nosso país. Temos a capoeira, uma expressão cultural considerada arte, luta e dança, que se afirmou como a principal forma de defesa, utilizada pelos perseguidos na época da escravidão e hoje é Patrimônio Cultural da Humanidade. A história da capoeira se confunde com a história constituída na época colonial do Brasil, período em que o tráfico de escravos de diversas regiões da África encontrou em terras brasileiras, possivelmente, os maiores consumidores da mão-de- obra escravocrata.
Polyana e Fabrício, na roda de Capoeira no Balaio das Águas, 2014. Foto: Robson Bonfim, cedida em Creative Commons.
O tempo passou e algumas marcas foram perpetuadas pelo período de grande contingência dos povos africanos, que aqui forçosamente tiveram de reconstruir a sua identidade. A forma encontrada para que suas tradições fossem mantidas, designou à oralidade um papel fundamental para a preservação e transmissão de determinados costumes e valores das nações africanas no Brasil.
A tradição oral tem enorme significância para as culturas africanas, através do sopro sagrado, se formam as palavras que os mais velhos transmitem aos mais novos. De geração em geração, as tradições, os conhecimentos acerca do cotidiano sobre a natureza, sobre os antepassados, enfim, os valores da sociedade e as concepções circunscritas pelas referências ancestrais, se atualizam no tempo presente. É através da memória individual e coletiva que se guardam e se presentificam os segredos da iniciação nos mais diversos ofícios, cantos, rituais, portanto tudo isso faz parte do passado e do presente de cada indivíduo em sua comunidade.
Para nós no Ibaô, essa continua sendo uma referência fundamental e ao nosso modo, vamos compartilhando conhecimentos, jeitos e processos que se constituem da partilha e nos permitem [re] construir nosso passado, com as mãos e cabeça no presente e os pés no futuro.
Referência citada:
MEC. Orientações e ações para a educação das relações étinco-raciais. Brasília: Secad, 2006.
*Alessandra Gama: cofundadora do Instituto Baobá de Cultura e Arte e articuladora institucional, atua na gestão de projetos. É Educadora Popular, pesquisadora e atualmente, mestranda em Educação, Comunidades e Movimentos Sociais, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Festejo da cultura popular acontece dia 31 de janeiro, em Campinas
Folia de reis, capoeira, afoxé, outras manifestação culturais e comida típica na Vila Padre Manoel da Nóbrega, sábado, a partir das 12h.
Com barracas típicas de comida e artesanato, apresentações de capoeira, samba de roda, maracatu e jongo, entre outros, o 3º Balaio das Águas ocorre a partir das 12h do dia 31/01, no Ponto de Cultura e Memória Ibaô. A entrada é gratuita.
Os organizadores esperam receber toda população campineira e vizinhança, para uma tarde de muita alegria e festejo, numa das maiores festas da cultura popular do município. A folia de reis, uma das manifestações mais traicionais da cultura brasileira abre a programação. Haverá roda de capoeira e jongo, que foram reconhecidos como patrimônio cultural de Campinas em 2013 pelo CONDEPACC. O acarajé, que também é patrimônio cultural do Brasil está entre as comidas típicas da festa. O evento abre a programação cultura do Ponto de Cultura, que existe há mais de 10 anos.
Algumas imagens
Urucungos, Puítas e Quinjengues no Balaio (2015).Maracatucá no Balaio (2014).Jongo Dito Ribeiro no Balaio de 2014.