Dia 19 de maio de 2016 a escritora Cidinha da Silva lançou em Campinas o livro Sobre-Viventes! pela Editora Pallas e foi entrevistada pela Gislaine Antônio, do Ibaô. Além da entrevista, Cidinha performa a crônica “O dia que Willian Bonner chorou”
Desde 2008, a roda de capoeira está no rol dos patrimônios culturais imateriais do Brasil declarados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Diretamente ligada à história da resistência negra – tanto durante como depois da escravidão –, em 2014, a herança cultural afro-brasileira ganhou o mesmo título da UNESCO, desta vez consagrando-a como um patrimônio da humanidade.
Diferentemente do tombamento de prédios históricos, o registro embasa o desenvolvimento de políticas públicas para a manutenção e ampliação deste patrimônio imaterial. Foi ele, inclusive, o ponto de partida para que o Instituto Ibaô, projeto de preservação e memória da capoeira sediado em Campinas, pudesse repensar seu papel na comunidade local.
No último sábado (26), o Afoxé Ibaô Inã ati Omi abriu o palco para a Noite dos Tambores do Revelando SP, em Valinhos.
Este ano a nossa cidade vizinha foi anfitriã do festival que já está em sua décima nona edição. O festival reuniu ao longo de nove dias, diversas comunidades, grupos e artistas das expressões tradicionais, além de barracas de artesanato, culinária, vestuários e artefatos diversos que representam a cultura paulista.
A Noite dos Tambores é composta por uma diversidade de expressões oriundas das matrizes africanas em que os tambores protagonizam, junto da oralidade cantada, as formas de comunicar as tradições locais. O Afoxé Ibaô Inã ati Omi teve a honra de ser convidado para a abertura da noite e a apresentação contou com o repertório de composições próprias, cantigas de domínio de nação e algumas composições dos nossos padrinhos Afoxé Oyá Tokolê de Recife (PE).
Nossos agradecimentos ao Revelando SP e à Secretaria Municipal de Cultura de Campinas. Os registros são da nossa semente @Madyh Castro.
No dicionário “sarau” possui varias definições, entre elas: “uma reunião festiva entre amigos onde se ouve músicas, assiste filme, filosofa, lê trechos de livro, recitam poesias”. Tudo isso aconteceu sábado, na edição de setembro do Sarau Ibaô Expressões Periféricas. Mais um encontro de pessoas que acreditam no poder da expressão poética, seja através da poesia recitada, cantada, performada, sentida, muita linguagem periférica exprimida. Noss@s parceir@s não mediram esforços para fortalecer, vieram de todas as regiões de Campinas e da Capital SP, provando que não há distância quando o quê prevalece é o desejo de transformação das realidades periféricas. Tod@s carregad@s de energia vibrante, pulsando desejo de expressão.
O Expressões Periféricas é um espaço aberto para a comunidade se manifestar, o microfone aberto é o lugar de se posicionar e de transformar. É a comunidade acolhendo a comunidade, é o olhar coletivo que transforma e é transformado. Arte e poética transformando a ação, a transformação social que reverbera através da potência das linguagens artísticas, da poesia e do coração. A poesia que se faz e reverbera amor. Cada sarau é um sarau, um aprendizado, uma emoção, muitos corações unidos pela canção… O mundo precisa de poesia, o mundo precisa de sarau.
As diversas formas e linguagens de pulsar a cultura nas comunidades periféricas são quase sempre a soma de potências criativas invisibilizadas, pouco ou quase nada incentivadas. Ainda assim[!], as expressões periféricas reescrevem um outro capítulo nas páginas das desigualdades, revelando outros universos possíveis, apesar das ausências sociais e afetivas, sempre multiplicadas.
A edição de setembro foi um encontro improversado de vári@s rappers, chamando foco para o peso e a importância do rap e do hip hop, como fontes inesgotáveis de comunicação, linguagem, produção cultural e artística. Seu nascedouro e fonte de inspiração primária são as ruas, os guetos, favelas e todos os lugares localizados à margem dos fluxos econômicos e não o bastante, lugares que alimentam as estatísticas produzidas e mantidas pelas grandes corporações midiáticas. Aquelas que só chegam para noticiar a violência e não para desesconder ou projetar a arte que este mesmo lugar produz…
Marcaram presença na noite de sábado: Doutor Sinistro, Lê MC, REN CPS, Mister Mistério, Lá Máfia, RCDR, Cizo Marfim, HAAK MC e Kabbalah MC’s [de Campinas], com participação especial do Crônica Mendes, que saiu da capital para prestigiar nosso sarau e deixou seu recado musicado “Avisa lá que a favela não tá só…” Seguimos alimentando nossos sonhos, acreditando que a sociedade transformadora e transformada, é essa, vivida na dureza do dia a dia, buscando meios próprios de criar e dizer ao mundo como as coisas podem mudar [e já são diferentes], quando a escolha é compartilhar a soma das potências criativas [e afetivas].
Texto | [Co]Criação: Andrea Mendes, Lu Pontes e Ale Gama.
Afoxé Ibaô no Carnaval 2015. Cortejo na Vila Padre Manoel da Nóbrega. Foto: Mandy Castro.
O nosso afoxé estará no Revelando São Paulo, edição que acontece de 19 a 27 de setembro, das 09h às 21h, em Valinhos. Trata-se também do XIX Festival da Cultura Paulista Tradicional, com barracas de artesanato e culinária, apresentações de Batuque, Catira, Cavalhada, Congada, Folias de Reis e Tropeiros.
O Revelando São Paulo é um programa e foi criado em 1996 pela Abaçaí Cultura e Arte, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo. Por meio de suas pesquisas e parceiros, este programa revela a importância da cultura imaterial, de saberes e fazeres de várias comunidades e pessoas da região, procurando contribuir com a sua manutenção e extroversão, envolvendo as diversas instâncias dos poderes públicos municipais e estadual, para que se garanta as condições necessárias à sua continuidade (Fonte: Abaçaí).
Esta edição será realizada no Parque Municipal de Feiras e Exposições, localizado à Rua D. João VI, 82 ° – Jardim Planalto – Valinhos/SP. A partir das 17h30, no dia 26 de setembro, o Afoxé Ibão Inã ati Omi leva o poder da palavra, do canto, da dança e da percussão afro. Uma das riquezas ancestrais herdadas dos nossos antepassados e que vivenciamos como uma das culturas que [re]existem pela negritude.
Cidinha autografando O Mar de Manu, uma das obras do seu balaio literário. Foto: Alessandra Gama.
Como de costume e sentido, abrimos a roda de [re]lançamento de Os Nove Pentes d’África com o tambor e Olóojó Òní, saudando o Senhor do Dia.
Cidinha da Silva fez côro com a abertura, pedindo aos presentes da roda que se apresentassem, contribuíssem com questões e expectativas sobre o encontro de [re]lançamento do livro.
Os Nove Pentes D’África e outras obras de Cidinha da Silva, que vieram pra roda. Foto: David Rosa.
Transitamos sobre a dinâmica e incidência das editoras no fluxo do mercado livreiro, relações com as políticas de livro, leitura e literatura no âmbito escolar, entre outros temas mais abrangentes. Em seguida, percorremos sobre as questões ensaísticas, crônicas, rotinas de produção criativa e as africanidades abordadas pela autora, em seus livros.
Também falamos sobre as estéticas de linguagem e política artística das obras de Cidinha da Silva, com o feliz detalhe de compartilhar com a própria, as leituras sensoriais do nosso pequeno grupo entre a vastidão de leitoras e leitores que acompanham a sua escrita.
Roda de conversa com leitoras e leitores presentes. Foto: Alessandra Gama
Na ocasião passada foi o lançamento de Racismo e Afetos Correlatos e agora, na sexta, dia 04, foi Os Nove Pentes d’África, em sua primeira reimpressão. A cada encontro a inauguração de uma nova casa, feita de letras e sentidos, portas, janelas e paredes “de vidro”, que transcendem o convite escrito de Cidinha da Silva, aos passeios negros e nus, por sua obra literária.
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Os Nove Pentes D’África e outras obras de Cidinha da Silva, que vieram pra roda. Foto: David Rosa.
Roda de conversa com leitoras e leitores presentes. Foto: Alessandra Gama